OPINIÃO: João Almeida
Quis fazer este texto de opinião pois está muito complicado de algumas pessoas perceberem o que é de facto ciclismo, e está mais dificil ainda de o verem e comentar com uma cegueira enorme quando se trata dos portugueses. Lembrem-se que até há poucos anos, ter um ciclista a trabalhar na frente do pelotão internacional era motivo de orgulho, agora temos 8 ciclistas no WorldTour, onde se inclui um campeão do mundo.
O João Almeida, no seu inicio de carreira era um ciclista muito diferente do que é atualmente , quando ingressou na Hagens Berman Axeon, e mesmo no ano anterior, as suas vitorias e resultados de relevo, na sua maioria eram em sprints em pequenos grupos, alguns maiores, mas era muito explosivo nas chegadas, e aliava essa explosividade à capacidade de ultrapassar a média montanha para fazer valer as suas forças como fez na Liège-Bastogne-Liège sub23 de 2018, que venceu. O contra-relógio, nessa altura, também era uma das armas do ciclista, a capacidade de colocar andamentos altos tendo em conta o seu peso.
Olhando a estas características do ciclista e tendo em conta a filosofia e forma de correr da Deuceuninck Quick-Step na altura, foi contratado para a época de 2020. Lembro-me de na altura me fazer todo o sentido essa transferência. Nessa época, muito diferente das outras, vinha a apresentar excelentes resultados a trabalhar para Remco Evenepoel, e fazia prever que os podesse melhorar com a equipa a trabalhar para si. Perdeu, na minha opinião, o Giro d'Italia 2020 por não ter a preparação adequada para fazer 3 semanas a fundo, como de resto naquela formação belga, na altura poucos faziam, pois a concentração era na vitoria de etapas. Custou-lhe a frescura na terceira semana, porque com 11 top10 em etapas e como pior resultado um 28, teve uma regularidade impressionante e ai sim, claramente faltou-lhe equipa, pelo menos para fazer pódio.
Houve a mudança para a UAE Emirates, que nunca achei que do ponto de vista desportivo tivesse sido a melhor opção na altura, mas também entendo que financeiramente tenha compensado bastante. Metodos de treino novos, e que temos de admitir que dentro daquilo que a equipa quer, estão a resultar. Teve 2 anos para liderar a equipa no Giro, conseguiu um terceiro lugar, também tem tido oportunidade na Vuelta e sempre no top10 quando termina, e o ano passado teve a oportunidade de fazer o Tour e a sua corrida depois de ajudar Pogačar, é quarto.
Isto para dizer o que? Que o João, em 3 semanas, esta muito forte, tem um forte poder de recuperação entre etapas e durante varios dias, para alem disso passou a conseguir fazer subidas de +1h, porque é o que a equipa deseja dele. O Joao de ha 4/5 anos, provavelmente tinha vencido a Vuelta a Comunidade Valenciana facilmente como fez em 2021 na Volta a Polonia ou ao Luxemburgo. Neste tipo de provas, atualmente, existe mais que uma mão cheia de ciclistas que o pode bater, pois as 'armas' que tinha no inicio de carreira não são as mesmas de hoje em dia.
O trabalho do João hoje em dia é apoiar o Pogačar no Tour, na alta montanha, irá ter oportunidades ao longo da época para liderar a equipa em provas por etapas de 1 semana, mas temos de avaliar as características das provas, e esta Vuelta a Comunidade Valenciana não ia de encontro as suas, é um facto. O João é um Gregário de Luxo, e deviamos estar orgulhosos pois é Gregário do melhor do mundo, e não colocar demasiadas expectativas no ciclista, é importante aprender a ter prazer em ver a corrida, e não apenas ver porque estão lá portugueses, como custumo dizer, eu ja gostava de ciclismo antes.
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